Textos

Pequenos contos, grandes lições...

Os textos abaixo são pequenos contos inspirados nas diversas histórias contadas por Mãe Dalma de Iemanjá (in memorian) das experiências vividas por ela em seus quase 50 anos de Umbanda. Cada conto deste é um aprendizado que nós, da Sociedade Espiritualista Ogum Megê, temos orgulho de seguir. 

(Os textos abaixo são de propriedade da Sociedade Espiritualista Ogum Megê, portanto se for compartilhar dê os créditos)

O homem e seu fiel cachorro

Essa é mais uma daquelas simples histórias que acontecem diariamente nos terreiros de Umbanda do Brasil, mas que servem como profundo aprendizado, não apenas para aqueles que presenciaram, mas para todo aquele que ouve essa bela história.

Certa vez há muitos anos atrás, conta Mãe Dalmácia, dirigente da Sociedade Espiritualista Ogum Megê, quando este terreiro ficava situado na Praça Onze no centro do Rio de Janeiro (hoje fica em Nova Iguaçu e na época tinha outro nome), os médiuns estavam se preparando para dar inicio aos trabalhos. Todos de branco, as velas sendo acessas, o defumador começava a queimar as ervas da Jurema que trariam seu delicioso aroma e prepararia o ambiente para o belíssimo trabalho que os guias iriam realizar. Tudo acontecia normalmente.

Quando tudo estava quase pronto, entra um senhor mal vestido, aparentando estar ligeiramente embriagado e acompanhado de seu fiel cachorro. Entraram mas não fizeram nada que pudesse atrapalhar o andamento dos trabalhos. Neste momento um dos médiuns mais rigorosos da casa, de moral ilibada aproximou-se do homem e com educação e bem baixinho pediu que ele se retirasse e que quando estivesse sóbrio voltasse para ser atendido pelos guias que iriam lhe atender com muito prazer. Aquele homem foi embora.

Quando os trabalhos finalmente começaram, o caboclo chefe da casa na época, Caboclo Sete Flechas, chamou o médium no canto e esclareceu a ele que não devia ter mandado aquele homem ir embora, pois "são aqueles que mais precisam de nossa ajuda".

Naquele momento o Caboclo Sete Flechas deu uma lição que apesar de tantos anos passados é um princípio no terreiro. Jamais dar as costas a ninguém. Aliás, nos faz lembrar um famoso ensinamento do Caboclo das Sete Encruzilhadas através de Zélio de Moraes (fundador da Umbanda): "Aprender com quem sabe mais, ensinar a quem sabe menos e a ninguém voltaremos as costas". O médium, hoje já desencarnado repassou aquele fato a todos para que todos pudessem aprender. O homem, bom... Nunca mais se teve noticia. Provavelmente é um daqueles anjos que são colocados em nosso caminho para que aprendamos certas lições. 

Confiança

São nas histórias mais simples que as grandes verdades da vida se revelam. Conta mãe Dalma que certa vez na Taba do Caboclo Sete Flechas (hoje Sociedade Espiritualista Ogum Megê) que na época tinha sua localização na região de São João de Meriti ela, incorporada com Boiadeiro, entidade de grande força e magnetismo, com a função de "laçar" aqueles espíritos que estão na erraticidade, dançava ao som dos atabaques. Aquele terreiro possuía uma luminária antiga presa por correntes e com lâmpadas grandes e pesadas. Um acidente com aquelas luminárias poderia certamente machucar profundamente alguém. Mas todos já haviam aprendido com Sete Flechas, Caboclo de grande luz que já havia dirigido aquele terreiro, que quando fosse acontecer algo de muito grave que a reunião não aconteceria. Então se a reunião estava acontecendo é porque tudo iria terminar bem. E naquele dia algo iria acontecer que comprovaria esta afirmação. Quando ninguém esperava uma daquelas lâmpadas caem e o Boiadeiro que dançava e espalhava sua energia a todos, apenas levantou o braço e segurou com firmeza a lâmpada. Todos ficaram admirados com mais uma prova de que há muito mais entre o céu e a terra do que podemos supor. Jetuá o Boiadeiro.

Vão-se os dentes fica a lição...

Todas essas histórias são contadas com riquezas de detalhe por mãe Dalma. Essa é um pouco mais dura, mas revela uma face dos nossos amados Exus. Pai Savério Bruno, dirigente da Taba do Caboclo Sete Flechas, era um médium muito respeitado. Possuía uma mediunidade que hoje já não existe mais, a inconsciente. Assim é, pois hoje a maioria possui a semiconsciente pois ali existem duas consciências atuando, a do guia espiritual e a do médium, como era definido pelo Sete Flechas, café com leite que misturadas formaria uma terceira. Pois bem. Os preparativos da reunião estavam sendo realizados mas já formava um grupo de assistentes no terreiro. Pai Savério Bruno, casado com Mãe Dalma (na época apenas Dalma) era um homem que costumava chamar atenção das mulheres. Seus olhos verdes ajudavam bastante. Havia neste dia uma mulher muito bonita que provavelmente jogava todo seu charme para aquele que era o centro das atenções naquele lugar. E como ninguém é desprovido de vaidade, ele a olhou de volta e ficou sentindo-se o cara. Deu-se inicio a gira, Exu Tranca-Ruas baixou no terreiro através da mediunidade de Pai Savério, atendeu a todos, e no final chamou Dalma no canto e de forma a não chamar atenção de ninguém quebrou dois dentes do próprio médium, cuspiu ao chão e disse a Dalma que avisasse ao "cavalo" (maneira umbandista de chamar o médium) que dentro do terreiro ele não tinha que olhar pra ninguém. Despediu-se de todos e subiu. Dalma ficou brava querendo saber pra quem ele tinha olhado e Pai Savério revoltado por ter perdido os dentes. Exu não brinca, Exu não é de brincadeira... é o executor da lei. Quem merece recebe, quem deve paga. Hahaha Acho que estou ouvindo uma gargalhada deles...

Tranca-Ruas e seus gatos 

Seu Cabral era um homem com uma postura muito enérgica e de muita firmeza. Sua casa era toda rodeada por uma varanda onde geralmente faziam-se reuniões de esclarecimento sobre a espiritualidade. Não gostava muito de animais, mas recebia a visita de muitos gatos, o que lhe causava muito incomodo. Sem falar com ninguém comprou algumas sardinhas, as abriu no meio e colocou veneno para que aqueles gatos parassem de lhe perturbar e espalhou pela varanda. Naquele dia nenhum gato apareceu, no dia seguinte nada. E as sardinhas ficaram lá. Na gira de Exu logo após esse acontecimento, Exu Tranca-Ruas incorporado em seu médium Pai Savério Bruno, chamou Seu Cabral e lhe disse: "os gatos não foram e nem irão mais já que você não os quer, mas só para que saiba eles eram meus". Seu Cabral ficou sem saber o que falar, mas agora sem a proteção desses belos animais que trazem a energia de nossos amados Exus.

Despertando fé

Pai Savério possuía uma pedra que tinha o formato de uma santinha. As pedras pertencem ao reino mineral e possuem um forte magnetismo dos orixás principalmente de Mãe Oxum. Num dia de trabalho no terreiro, que como sempre estava com muitos médiuns e assistência cheia em busca de conforto espiritual, o Caboclo Sete Flechas com a intenção de despertar a fé de todos colocou aquela pedra dentro de um copo com água e para que TODOS vissem invocou um elemental que dançava dentro da água. Todos ficaram emocionados com aquela demonstração que para alguns incrédulos era apenas efeito da água. Mas para aqueles que possuiam olhos de ver viram a vida se manifestar em seus profundos mistérios. Essa pedra existe ainda hoje e é guardada com todo carinho por quem presenciou aquele dia.

Águia Branca era uma entidade de grande luz. Sua grande missão era cuidar dos necessitados de saúde. Vinha nos trabalhos de mesa sempre através da mediunidade de Pai Savério. Com a mão na testa e fala baixa atendia a todos sempre com muito amor e respeito. Digno dos grandes espíritos da seara do Cristo. Todos confiavam muito nele. E não podia ser diferente realizava muitas curas e fazia isto sem olhar a quem. Mas havia uma pessoa que além de confiar colocava seu próprio nome e sua profissão de médico a serviço de Águia Branca. Tanto é assim que Águia Branca diagnosticava, receitava e ele apenas escrevia, assinava e carimbava com seu CRM (Conselho Regional de Medicina) para que a pessoa pudesse comprar o remédio na farmácia. Pai Savério era um homem simples, não possuía conhecimento de medicina. Então só podia mesmo vir de um guia de alta luz como era Seu Águia Branca. O nome do médico será ocultado por questão de ética. Mas o exemplo de fé e confiança fica na memória de todos. (OBS: Hoje como na época essa questão é muito delicada, podendo inclusive ser considerada crime. Logicamente que o médico em questão fazia uma analise da situação, constatando sempre que a resposta dada pelo guia era verdadeira e correta)

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