Umbanda e os tempos modernos

Umbanda e os tempos modernos

      Por Pai Victor de Obaluaie

     Vivemos um tempo em que o ancestral e o moderno se cruzam de forma pragmática. Muitos estão sentindo a necessidade de se conectar novamente com sua ancestralidade de maneira ritual em religiões e práticas espirituais que promovem essa conexão. Isso fica registrado num aumento importante de novos adeptos a religiões de matrizes afro-indígenas. O que é muito importante para a construção de uma sociedade mais tolerante e respeitosa.

     Nada fica parado no tempo. Tudo muda e evolui. E as práticas ancestrais ainda que mantenham sua essência, o que é fundamental, procuram se adaptar a novos tempos para se manterem vivas. Esse movimento é natural na história. Todas as religiões, de uma forma ou outra se adaptaram, se misturam e agregaram novas formas.

      A Umbanda não é diferente. Também vem passando por modificações e adaptações do mundo moderno. Já não se prática Umbanda como antigamente. E isso não é um problema, na minha opinião. Hoje, os umbandistas conscientes, já procuram realizar suas oferendas de modo sustentável, sem agredir a natureza. Isso é um avanço importante.

      O uso da tecnologia também foi muito difundido nos últimos anos. Muitos umbandistas aprenderam teoria da religião em cursos à distância pela internet. Até aí tudo bem. Isso não interfere na essência. Muitos vão dizer que o aprendizado se dá no chão do terreiro, o que seria muito bom. Mas também não vejo como que aprender na internet, numa origem segura, atrapalharia a manutenção da essência da Umbanda.

     Por outro lado, vemos também cursos para formação mediúnica e sacerdotal pela internet. Neste aspecto há sim um grande "ataque" a construção de saberes de terreiro. Que deveria estar atrelado a prática de comunidade. E não de forma individualista. Ser um sacerdote ou mesmo um médium de corrente deve ser uma construção diária e aprendizado mútuo entre membros de uma casa. E não construção entre pessoas que mal se conhecem a partir de uma orientação generalista feita pela tela de um computador.

     Outro aspecto que temos visto que causa grande preocupação é o excesso de imagens (foto e vídeo) dos trabalhos espirituais expostos na internet. Na nossa opinião, o sagrado deve ser vivido de forma íntegra sem necessidade de exposição. Isso não significa que não podemos divulgar nossa religião. Mas acredito que devemos manter nossa prática mais restritas aqueles que buscam fisicamente nossa religião. Filmar e fotografar médium incorporado e colocar na internet está trazendo uma série de problemas para nossa religião. Uma delas é a vulgarização desta prática ancestral e sagrada. A outra é o estímulo a vaidade exagerada e a construção de uma imagem do médium e não do Guia que é a verdadeira essência de nosso culto.

      Acredito que precisamos encontrar um caminho onde possamos divulgar nossa fé sem renunciar ao resguardo do sagrado. Que possamos praticar nossa fé de forma livre sem qualquer censura, mas, ao mesmo tempo, preservar nosso sagrado do excesso de exposição. Podemos e devemos estar na internet falando, divulgando, defendendo nossa forma de viver a espiritualidade. O que não devemos é expor, muitas vezes ridicularizando nossa fé a olhos preconceituosos e que usam dessas imagens feitas de qualquer maneira e sem propósito edificante para nos atacar.

     Que o ancestral e o moderno se cruzem de forma a crescer nossa religião e não apenas para dar vazão a nossa vaidade em desequilíbrio. 

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